Biblioteca Nacional do Brasil, mais de 200 anos de história

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Biblioteca Nacional do Brasil
Andar pela Cinelândia no centro do Rio de Janeiro é como voltar no tempo. O conjunto de prédios de época, alguns muito bem conservados, nos ajudam a lembrar que o Rio já foi a Capital do país e os monarcas brasileiros, desde D. João VI até D. Pedro II, andaram por ali.

Um dos prédios que chama a atenção, é o da Biblioteca Nacional, fundada durante a vinda da família real para essas bandas tupiniquins! Inicialmente denominada de Real Biblioteca, era aberta apenas aos estudiosos que tivessem permissão real. Posteriormente passa a ser chamada de Biblioteca Imperial e Pública, sendo aberta ao público. E finalmente, em 1876, recebe o nome de Biblioteca Nacional.

Sua fundação oficial se deu em 29 de outubro de 1810. Depois de ter o acervo acomodado nas salas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, na Rua Direita, hoje Rua Primeiro de Março, a Biblioteca Nacional ainda passou por outros prédios, até ser acomodado finalmente em sua sede oficial, o prédio que visitei. Sua construção teve início em 1905 e sua inauguração aconteceu em 29 de outubro de 1910, marcando o centenário da instituição.

Biblioteca Nacional do Brasil

E como eu fui parar na Biblioteca Nacional? Estávamos eu e Carolina Belo, do Viajar Correndo, ela me levando para conhecer o centro do rio num walking tour exclusivo (poucas pessoas conhecem tão bem aquelas ruas ali como ela), quando entramos para fazer umas fotos e o segurança nos pergunta: – Por que vocês não vêm pra visita guiada. Começa às 11h. Nos olhamos e foi tipo: – Demorô!

Como ainda tínhamos um tempinho, corremos na lanchonete mais próxima para beber um mate e comer um pão de queijo (afinal aquele era o dia do pão de queijo. Anotem ai, dia 17/08). Voltamos, entramos, colocamos nosso nome na listinha e aguardamos a guia nos chamar para dar início. Eu adoro essas coisas!

Detalhes do lindo prédio da Biblioteca

O prédio por dentro me lembou bastante o Theatro Municipal de São Paulo. A arquitetura me pareceu semelhante. Meus amigos arquitetos me corrijam se eu estiver errada!

Mas o que é uma Biblioteca Nacional? Perguntarão vocês!

Uma Biblioteca Nacional tem por responsabilidade governamental a captação, guarda, preservação e difusão da produção intelectual do País, ou seja, tudo o que é produzido seja literatura, música, fotografia,mapas etc, a BN deve ter um exemplar afim de preservar esse material todo e garantir que muitas gerações possam usufruir dele.

A nossa Biblioteca Nacional tem mais de 200 anos de história e é a mais antiga instituição cultural brasileira. Sua criação remonta a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, no ano de 1808. Possui um acervo com mais de 9 milhões de itens, sendo por isso considerada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) uma das dez principais bibliotecas nacionais do mundo. Ela é a maior da América Latina!

Réplica da caravela que trouxe os primeiros livros para o Brasil

Durante a visita ficamos sabendo que o acervo inicial da Biblioteca foram os cerca de 60 mil itens trazidos pela família Real, quando de sua fuga de Portugal. Para quem não sabe Napoleão Bonaparte invadiu Portugal e fez com que os monarcas e a corte fugissem. E qual país eles escolheram para sua nova morada? O Brasil!!!

Livros Raros 

Dentre os livros que vieram para cá estão três muito raros: a primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, de autoria de Luís de Camões. A primeira impressão do livro foi entregue a família Real Portuguesa.

A Gramática, de 1595, escrita pelo Padre José de Anchieta. Como ele veio para o Brasil com a incumbência de catequizar os índios, ao chegar aqui se deparou com a língua indígena, que dificultava a comunicação. Sendo assim ele percorreu boa parte do litoral brasileiro tentando identificar quais línguas eram essas, com o intuito de “traduzi-las”.

Como a mais falada era a língua Tupy, ele escreveu uma gramática para que os portugueses conseguissem entender e se comunicar com os indígenas, facilitando assim a convivência e tornando mais eficaz a catequização. Foi o primeiro livro a tratar de uma língua ameríndia da América Latina.

Biblioteca Nacional do Brasil

A Bíblia de Mogúncia, datada de 1462. Foi o primeiro livro totalmente impresso por Johann Gutemberg, considerado o pai da imprensa. Naquela época apenas a Igreja “produzia” livros, que eram escritos a mão pelos monges copistas. Quem ai lembra do filme/livro o Nome da Rosa, de Umberto Eco?

Pois era mais ou menos daquele jeito! Mogúncia é a tradução literal do nome da cidade de Mainz, na Alemanha, onde ficavam as oficinas de impressão de Gutemberg. É considerado o livro mais raro do mundo, pois existem apenas 60 exemplares dele. Sendo que dois estão na Biblioteca Nacional.

Na Biblioteca Nacional os livros raros ficam em um cofre e só podem ser vistos/tocados, com autorização governamental. Quando algum pesquisador consegue a autorização para isso, ele precisa ser acompanhado de dois agentes federais, que ficam o tempo todo com a pessoa. Achei isso muito Código Da Vinci, quando o personagem do Tom Hanks entra nos arquivos do Vaticano!! 🙂

No acervo, livros raros.

Além desses livros raros, no setor de Manuscritos outra publicação chama a atenção. O Livro de Horas, de 1378. Era um livro de oração determinando quais orações deveriam ser feitas a cada hora. Escritos a mão, em pergaminho, que era feito a base de couro ou pele de algum animal. O mais comum era o bezerro.

A Biblioteca Nacional possui 8 exemplares e pertenceram a algum membro da família Real. Aliás, a devoção religiosa era uma das marcas deles. Juntamente com outras coisas, essas mais profanas!!

Biblioteca Nacional do Brasil

Todos o mobiliário e lustres são originais de quando a Biblioteca Nacional foi criada. As mesas são de aço, assim como suas enormes estantes e escadas que levam até elas. Foi o primeiro prédio do centro do Rio de Janeiro a receber luz elétrica.

Como a energia era instável ainda e alguns apagões aconteciam, isso não atrapalhava a pesquisa e a leitura, pois o prédio foi construído com enormes claraboias que permitiam a entrada da luz natural.

O prédio centenário tem rica arquitetura

Suas estantes são fixas e fazem parte da estrutura do prédio. Se tentassem tirar uma, toda a base ficaria comprometida. O assoalho entre elas é todo de vidro, para facilitar a entrada de luz natural que vinha pelas claraboias. O ambiente é muito lindo. Eu particularmente adoro entrar nesses prédios, conhecer suas histórias. Nessa caso em especial, por se tratar da nossa história!

Uma curiosidade: se todas as estantes fossem enfileiradas deitadas, elas teriam uma extensão de 17 km! Muito maior que a Ponte Rio Niterói, que tem cerca de 3,5 km.

Área interna de pesquisa

Ah eu quase esqueço!

As três formas pelas quais a Biblioteca recebe livros são:

    • Lei do Depósito legal: onde toda a obra de natureza bibliográfica e musical deve ter pelo menos um exemplar enviado para a BN, no prazo máximo de 30 dias após sua publicação.
    • Doação de qualquer pessoa: isso mesmo, eu ou você, se tivermos alguma obra que quisermos doar a Biblioteca, podemos sim!
    • Conquistas de Guerra! Exemplo: Guerra do Paraguai. Na guerra do Paraguai, quando o Brasil foi vencedor, nosso exército entrou na Biblioteca em Assunção e trouxe todos os livros para cá. Atualmente o segundo maior número de pesquisadores da BN são os paraguaios, em virtude de praticamente toda a sua história estar aqui. Se eu concordo com isso? Não. Mas era assim que acontecia, infelizmente. 🙁

E ai, curtiram? Espero que sim. Então anotem essa dica e numa próxima ida até o Rio de Janeiro incluam no roteiro de vocês uma visita a Biblioteca Nacional. Eu recomendo! 😉

Fundação Biblioteca Nacional – Av. Rio Branco, 219. Centro, Rio de Janeiro. Horários de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 09h às 19h. Visitas guiadas até 17h. Sábado, das 10h30 às 15h, entrada de leitores e visitantes até 14h. As visitas são gratuitas, mas é preciso colocar o nome na lista, no balcão de atendimento da recepção, pois os grupos tem limite de participantes. Fotografias são permitidas mas sem flash.


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Sou a Márcia, gaúcha lá de São Leopoldo. Sou jornalista, gremista, leonina, corredora amadora, viajante e Editora do Casa de Doda! Aqui eu conto sobre os lugares por onde andei e as belezas que vi. E sobre o que eu não gostei, também!! Vem passear comigo.

6 COMENTÁRIOS

  1. Que post lindoooo!!! AMEI!!! Ano passado, só entrei lá rapidinho pra tirar foto da escadaria. Esse ano, finalmente consegui fazer o tour (mas só pq alguém que se inscreveu antes acabou não aparecendo pq tava com a lotação máxima). Queria muito ver a bíblia de Gutenberg e Os Lusíadas, mas mesmo não vendo, curti o tour hehehe

    • Ahhh que linda Fer! Obrigada! Pois coma gente foi na surpresa. Não sabíamos da visita. Mas lógico que não ia deixar passar essa né? Agora preciso voltar para fazer o restante: Theatro, Real Gabinete e muito mais !!! Vamos marcar uma hora como pesquisadoras, pra ver se conseguimos ver os livros raros? Já pensou a gente escoltada por agentes Federais ihihihih Beijão, obrigada pela visita! 🙂

  2. Esse prédio tem um apelo emocional muito grande pra mim. A minha mãe trabalhou lá por 8 anos, e quando eu era criança sempre que eu acompanhava ela ficava sentada naquelas mesinhas de ferro copiando poesias dos livros para o meu diário. Adorei o post, me remeteu ao passado. Fiquei emocionada.

    • Ohhh Debs, que infância rica, poder desfrutar de um espaço tão importante. Eu fiquei maravilhada de estar lá. Que lugar lindo e tão cheio de história. Tenho que voltar para conhecer os outros cantinhos do centro da cidade. Beijinhos

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